À Segunda Vista

Aurora dos escritores

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Chega um momento, para todo escritor, em que as palavras já não bastam. Quando o sentimento está tão puro e latente ao ponto de sílabas não poderem mais imprimi-lo. O autor que é fiel e sensível a esta situação percebe que a impotência não é dele, mas das palavras.

Então ele fecha os olhos, tentando e atentando ouvir quais vocábulos formam-se dentro da mente, para que consiga reproduzi-los à escrita. No entanto, nada se concretiza, exceto... a não ser unicamente... por uma música.

Uma canção ainda incantável pelos lábios, inescritível e indescritível. Ela toca apenas dentro dele, quando os pensamentos silenciam. Ela se executa sozinha, harmoniosa, perfeita e, ainda assim, sem precisar de acordes, partituras ou instrumentos.

O escritor então tenta se agarrar a ela, à perfeição do presente, rabisca uns versos, senta-se ao piano, tenta registrar a emoção, mas... os versos não têm a mesma sonoridade, e as notas musicais parecem tocar qualquer outra coisa já tocada.

Num instante, que se achega a todo escritor, a gente percebe que a sinfonia é ininterrupta, que vivemos como o chato do celular no teatro, atrapalhando a arte que se executa na vida. Entendemos que a caneta ou o teclado à nossa frente não significam nada, que nossos escritos são sombras, cópias de uma poesia inexprimível. Somos animais querendo coisificar a espiritualidade.

Nessa aurora, diante da essência, somos, finalmente, apenas humanos rendidos.


Djonatha Geremias

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