À Segunda Vista

Brasão

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Foi assim que cheguei, não queria acordar
Me vesti de madame, caminhei para lá
Desci as escadas, luxuosos degraus
Por trás de um batom, uma vida de caos

Bem me lembro o porquê, tantas vidas atrás
Juventude abrasiva, instintos animais
Entreguei-me inteira a um só coração
Sem futuro o deixei, o mundo disse que não

E foi assim que cheguei nesse maldito lugar
Tantos homens usei, casamento não há
De cristais só as taças de um álcool fugaz
Cigarros à vontade, viver não me satisfaz

Ao pisar o carpet da sala de estar
Outro encontro marcado, mais um para matar
Sorri encantadora com meus lábios febris
Pedi suas licenças, quão astuta atriz

Nunca me seduziu a ideia de um brasão
Releguei meu vestido aos cuidados do chão
Maquiagem borrada, nua em frente ao espelho
Sepultei de uma vez o meu sonho vermelho

E foi assim que cheguei nesse maldito lugar
Ao pisar o terraço, não quero nem pensar
Um passo em falso, não mais que meu sorrir
Me sinto livre de novo, uma eterna aprendiz

E a brisa soprou meu passado para trás
Cores de uma paixão que não volta jamais
E tudo acabou, tudo silenciou
Tudo escureceu, tudo se dispersou.

E uma canção tocou suave em meu coração
Sob um eterno por-do-sol, sem qualquer punição
De paixões não lembrei, nem de homem qualquer
Ao menos, por uma vez, fui apenas mulher.

Djonatha Geremias

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